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Por que o pai do rock é o Diabo?

Poucas coisas merecem um mês. Julho é o mês do rock e agosto é o mês dos pais. Juntando as duas coisas como pretexto, está na hora de falar sobre a figura mais emblemática do rock e suas crias: Diabo, o suposto pai do rock!

Não é à toa que haja tal teoria, pois há algo ligado à religião na história do rock, MAS vamos encarnar o Ratinho e analisar o DNA pra revelar de quem é a verdadeira paternidade.

O Rock n' Roll Music, quanto ao ritmo, nasce na fusão energizada entre Rythm and Blues e Boogie Woogie, juntando a pegada sentimental e sem pudor do primeiro e a levada dançante do segundo. Duas formas de expressão dos negros no EUA dos anos 50, em que a segregação racial era latente. E logo você vai descobrir o que isto tem a ver com religião.

Os negros mantinham suas raízes emocionais e morais, as quais não condenavam o movimento dos quadris e nem os gritos, sempre acompanhados de movimentos condizentes com a profundidade de suas emoções. OU SEJA, um escândalo para a américa branca! Ver aquilo na igreja dos negros, então... era como ver um ritual blasfemo!

Os Estados Unidos estavam condicionados à ideais racionalistas e um moralismo pretensamente cristão, pregado toda semana como se fosse santidade. Quem nunca pensou no santo como aquela pessoa plácida com volume de voz inalterável, pensamentos organizados, vocabulário impecável e raros movimentos bruscos? Pois era este o ideal da maioria americana, branca e protestante.

Não esqueço do registro no documentário The History of Rock n' Roll em que um secretário declara: "A obscenidade e a vulgaridade da música Rock and Roll é claramente uma forma de fazer os homens brancos e seus filhos descerem ao nível dos pretos."

Uau!

O rock EXPLODIU as cabeças dos jovens brancos e, consequentemente, provocava um alvoroço incrível nas famílias dos estados onde chegava! Pernas e quadris remexendo, corpos em movimento e um calor que enchia o coração com suas letras explícitas sobre dançar até cair e sensualidade; eram as novidades que arrastavam os jovens criados com músicas impessoais feitas apenas para ouvir.

Se a influência era do Diabo nos corpos e na música dos negros, ele mandou o anticristo: Elvis Presley, o garoto branco que rebolava, fez os brancos cantarem Rock n' Roll. Talvez eu deva dizer "as brancas", mas ele tinha muitos caras que o admiravam por poderem sacudir desengonçados suas cabeças e pernas, sem se preocupar em pisar nos pés da garota, que, naquele momento, estava lá na frente desmaiando com a piscadela do frontman.

Com toda a repressão na época, os grandes pioneiros foram sufocados por um tempo até a explosão de Twist, depois veio a resposta britânica com Beatles, Stones... mais e mais pessoas experimentavam aquela música visceral a medida que o rock era influenciado por mais ritmos e ideais, mas a religiosa sociedade nunca aceitou aquilo como moralmente adequado, então o demonizou, marginalizando o rock como o ritmo dos desajustados.

Não custou nada para os jovens que queriam sair da caixinha e experimentar uma vida autêntica dizerem "Preferimos o Diabo, então!"

Quando Deus, igreja e fé, passaram a ser apenas o juiz, a polícia e a lei aos quais seriam submetidos por estarem rompendo paradigmas sociais e comportamentais -- típico da juventude --, só restou submeterem-se ou seguirem pela Highway to Hell, a Rodovia para o Inferno.

Eles conheciam a hipocrisia daqueles que diziam seguir o Jesus do "ame ao próximo" e legitimavam uma guerra confusa contra o pequeno Vietnã.

O movimento anti-sistema formado pelos hippies deu guarida para toda experimentação que o rock precisava. Além do ideal de abolir qualquer norma para viver, já estavam desacreditados das tradições da família cristã americana. Logo, eram condenados ao inferno.

Estas experimentações abriram as portas para vários tipos de rock, que já não se identificava mais pelo ritmo, embora o blues e o country estejam nele até hoje. E outro elemento, o Diabo, mesmo sendo o mais comum, não era mais a única figura a representar o sentido de contra-cultura do rock.

O Diabo do rock não é o Inimigo bíblico. Ele é o antagonista das sociedades intolerantes e hipócritas da humanidade, principalmente, aquelas que "usam Deus" para justificar sua falta de humildade e humanidade ao lidar com mudanças.

Não é estranho que muitos olhem e não entendam as figuras do Black Sabbath, ou do Slipknot. Afinal, poucos sabem que o rock impactou o mundo assim, ajudando a desmascarar uma linha cultural racionalista que reprimia vontades humanas legítimas, impedia diálogos francos sobre gritar de indignação, sentir tesão ou ter raiva. Muitos vivem nesta velha linha.


OK. Existem gêneros como black metal que, quase sempre, se declara satânico, mas, até aí, cada um usa o ritmo que quiser pra adorar seu deus. Eles não me chocam ou aterrorizam mais do que essa música orquestral:


Cabe aos rockeiros de verdade lembrarem de que o Rock and Roll, certamente, foi um dos acontecimentos da música mais influentes de todos os tempos. Por isso, seja pra sacudir a cabeça e/ou seja para dizer o que sente e pensa, seja autêntico... como foi o mais provável pai do rock: Chuck Berry!


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